quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A luva

é dia de luva, é hora de fuga.
é sorte que vai, aldeia que traga um quinhão de luz.
é ciso que fica.
é medo que esqueço, pois já compreendo
e mereço um tanto de vinho
e um leito de sossego.
para que o ego me lembre de tudo que há ao meu redor,
dos livros, das fábulas e toda sorte de amigos,
dos que vão e dos que ficam.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Interstício

versei vozes
no escuro
tateando as palavras
figurando entre vultos
em formato inseguro
em desacordo conflituoso
com a simetria
procurando a dor da doçura
para sonhar
que é encontrar
os teus lábios na penumbra
breve resquício
a dúvida de um interstício

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Retratos

eu sei, já acabou
o samba que tu me deste
em versos que tanto apreciei

perdoa a minha vaidade
e a loucura da chama
que acende toda a vez
que tu me rende

sou refém dos teus abraços
a exatidão dos teu afagos
em oposto ao meu vago coração
disperso, irrefletido, incoerente
na projeção do abstrato
que se revela em algum poente
e não consigo romper
a firmeza desses laços

dos retratos, não apaguei
as marcas das tuas aspas
nas favas contadas desse mel
e nos refrões que por ti sonhei
mas que ainda não criei

existe uma paz conturbada
no amor terminado, que renasce
e não cessa de querer existir
uma chama qualquer
perdida no vasto
mas que nunca acessa
o âmago do vago

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sonho do desconhecido

acordei numa cidade estranha
um lugarejo remoto de povo desconhecido
mas o povo, c-u-r-i-o-s-a-m-e-n-t-e,
me conhecia, pois eu estava no mapa
e trazia em meu discurso as raízes
de tudo o que vi e deixei pra trás
pois restaram apenas matizes
imagens sanguinolentas
onde os monges se disfarçavam de gladiadores
e as freiras eram putas devassas
que rara confusão
fui eu que inventei
um sonho para sonhar
escrevi o sonho para quebrar
perdendo rimas
e o dissabor
pra transformar
minha melancolia em ardor
trazer de volta o rugido
um sentido
onde nada era restrito
e matar a dor no
ejetando o buraco do espaço
criando uma nova forma
resgatando laços
desfigurando o molde
da mola mestra
que nada mais é
do que a linha que me resta

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Resta tudo

eu aqui
rasga o tempo
seca a fonte
aproveita esse momento
trás o sangue
de volta pra saga
mas há tormentas
por isso
disseca a violência
mas há o bravo
que também é sábio
que vai pra briga
e move a sina
quer o trote
quase um xote
mas se perde nos trilhos
nos idos
de uma década qualquer
pois não há marco
foram as páginas
da flecha que sai do arco
e assim rasga a saga
da faca inacabada
mas outros armaram-se
de farpas
e com isso nem
só o bem me tem
mas você sempre
me tem bem
no meio
desse trem
que vem
e vamos pro mundo
imundos
quase mudos
temos o vento
o evento
as cirscunstâncias
resta tudo