segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Gira

sempre que aspira o ar sereno
um novo remendo
paliativo do riso
reminiscências
cheiro de feno
de um velho novo tempo

mas quando gira
nem sempre move
ainda que saia do lugar
eu sei que comove
mas me sinto um muar
ao ruminar rancor
ao invés do cheiro doce
que vem da flor

mas quando vibra
me lembra do luar
inspira o que há de bom
poesia que se esconde
atrás de árvores
modifica o trágico
faz da vida mais
que um módulo tático

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Aquário de Vaidades

ei, sujeito da gravata
se for possível, recorra à ata
mas agora dê um tapa
e deixe de bravata

nesse instante
idiotas perante
um mundo que viaja lá fora
em outra tonalidade
na estrutura errante

logo adiante
irá revelar
o quanto insaso é
esse aquário de vaidades
enquanto os olhares mordazes
se cruzam como enfermidades

Agora, desconectemos da insanidade
descartemos as novidades
um rio pra sublimar
esse cortiço de frivolidades
enquanto lá fora
traseuntes esperam sinais
e mendigos nas calçadas
produzindo imagens sarcáticas

Está tudo do avesso
Não há mais recomeço
traduzindo fantasmas no espelho
são nossas ilhas recrudecendo ao veneno
formatando o procedimento do desespero

Ei, homem da gravata
há chance que refaça
enquato rumamos na fragata
amarra as dores sutis
confia e retrata
com tinta vinil
se desfaça
e voemos junto
no voo dessa garça

sábado, 21 de novembro de 2009

Barcas descarregadas

uma chama apertada
uma chaga rasgada
com promessas veladas
no bojo do turbilhão

um poema engavetado
uma lousa roubada
e leões alados desenhados
no estrato do coração

todo meu movimento
sem meu cossentimento
o orgulho é apenas um ornamento
no meio da multidão

as barcas descarregadas
imagens são levadas
de um único momento
que se fez impressão

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Flores de jacarandá

dessas estruturas cabais, que até já duvido se são letais, sim, ainda sou animal, ainda que racional.
e desvio a rota da nau canária, pois os marujos imundos já estão castigados pela praga
que também molesta os poetas embriagados nas elucabrações de seus processos mais amargos
assim distraído, perdido em meus próprios parágrafos, longos e densos, lembrando os de Saramago,
marcados a ferro e fogo a blindagem na matriz do vago
e assim, são nas flores de jacarandá que se espalham nas ruas, onde conquisto o meu espaço e vou aos céus com tapetes roxos, expelindo fuligem que ainda persiste, desafiando o rastro, a poeira pra trás, vencendo o tempo como um príncipe
que ergue a espada pra cortar o aço, misturando emoções longíquas descabidas no peito
com a essência da cidade; apenas por um segundo, como a mágica de um breve traço,
o tom melancólico que atravessa a garganta concede ao brilho uma vocação de astro
e surgem cabelos de prata, dedo-duro da idade,
me põe como ser cambaleante, fazendo malabarismos com os livros
que caem da estante, e jogo fora as canetas que só desenham prisões,
em uma metamorfose maluca que eleva a rotação, traz de volta o menino fujão
pra dentro de uma nova direção, com os rasgos do coração maduro
que mais parecem a ilha de um náufrago em desuso, buscando o afago de mãos secretas e macias
que confortam e apaziguam como dose de morfina nessa sina assina, cheiro de saudade em campos de batalha artificiais, nos corpos duros dos soldados.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Gibis soterrados

fio condutor
forjado em aço
produz a dor
que é lacinante
num papel de maço

de cartas embaralhadas
memórias cruzadas
e gibis soterrados
recapitulando
infanto em atos

mas de onde vem
todo conceito?
e por que a palavra
recusa
o contato com o sentido?

o horror é temor
produto do processo
individuação de um ser
que julga ser o protagonista
o ativista de uma conquista

sábado, 3 de outubro de 2009

Torres insanas

no fundo todos querem relaxar
arrumar suas mesinhas
uma tarde pra passear
e um tapete pra pisar
no quadrilátero do absurdo
contra luzes e latidos de cães surdos
que desafiam o silêncio da noite
seja a fumaça
ou o regozijo das carcaças
que elevam e temem essa teia
absorta nos movimentos
de tons cinzas nas paredes dos muros
tocados, mas desprezados
esperando um novo sol que cruza
através da cortina de neblina
que cobre o mundo
das torres insanas
desbravadores controlando o infortúnio
apoiados em premissas erradas
nas pistas dadas
sucumbindo ao ar rarefeito
a lufada gelada
que anestesia
o ritmo da caminhada

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A luva

é dia de luva, é hora de fuga.
é sorte que vai, aldeia que traga um quinhão de luz.
é ciso que fica.
é medo que esqueço, pois já compreendo
e mereço um tanto de vinho
e um leito de sossego.
para que o ego me lembre de tudo que há ao meu redor,
dos livros, das fábulas e toda sorte de amigos,
dos que vão e dos que ficam.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Interstício

versei vozes
no escuro
tateando as palavras
figurando entre vultos
em formato inseguro
em desacordo conflituoso
com a simetria
procurando a dor da doçura
para sonhar
que é encontrar
os teus lábios na penumbra
breve resquício
a dúvida de um interstício

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Retratos

eu sei, já acabou
o samba que tu me deste
em versos que tanto apreciei

perdoa a minha vaidade
e a loucura da chama
que acende toda a vez
que tu me rende

sou refém dos teus abraços
a exatidão dos teu afagos
em oposto ao meu vago coração
disperso, irrefletido, incoerente
na projeção do abstrato
que se revela em algum poente
e não consigo romper
a firmeza desses laços

dos retratos, não apaguei
as marcas das tuas aspas
nas favas contadas desse mel
e nos refrões que por ti sonhei
mas que ainda não criei

existe uma paz conturbada
no amor terminado, que renasce
e não cessa de querer existir
uma chama qualquer
perdida no vasto
mas que nunca acessa
o âmago do vago

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sonho do desconhecido

acordei numa cidade estranha
um lugarejo remoto de povo desconhecido
mas o povo, c-u-r-i-o-s-a-m-e-n-t-e,
me conhecia, pois eu estava no mapa
e trazia em meu discurso as raízes
de tudo o que vi e deixei pra trás
pois restaram apenas matizes
imagens sanguinolentas
onde os monges se disfarçavam de gladiadores
e as freiras eram putas devassas
que rara confusão
fui eu que inventei
um sonho para sonhar
escrevi o sonho para quebrar
perdendo rimas
e o dissabor
pra transformar
minha melancolia em ardor
trazer de volta o rugido
um sentido
onde nada era restrito
e matar a dor no
ejetando o buraco do espaço
criando uma nova forma
resgatando laços
desfigurando o molde
da mola mestra
que nada mais é
do que a linha que me resta

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Resta tudo

eu aqui
rasga o tempo
seca a fonte
aproveita esse momento
trás o sangue
de volta pra saga
mas há tormentas
por isso
disseca a violência
mas há o bravo
que também é sábio
que vai pra briga
e move a sina
quer o trote
quase um xote
mas se perde nos trilhos
nos idos
de uma década qualquer
pois não há marco
foram as páginas
da flecha que sai do arco
e assim rasga a saga
da faca inacabada
mas outros armaram-se
de farpas
e com isso nem
só o bem me tem
mas você sempre
me tem bem
no meio
desse trem
que vem
e vamos pro mundo
imundos
quase mudos
temos o vento
o evento
as cirscunstâncias
resta tudo

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Atos secretos

ai, se me pertimisses
interromper tuas tagarelices
e assim, de mansinho
meus desatinos
não seriam mais bagaceirices
te levaria para os atos secretos
nos desenhos elaborados
da minha imaginação
produzidas em meus sonhos
ao ver um olhar tão doce
e um sorriso tão espontâneo
que se move nesse corpo
de ninfeta inconstante
meu prazer é constatar
perceber e imaginar
que o teu juízo
organize meu malabarismo
e que o vago vacilante
se entregue num rompante
ao abismo dos frutos proibidos
arte da malícia em tua alma
de aluna dos despertares
das manhãs mais radiantes

Como bocas de marfim

é o nosso sequestro
da subjetividade
não somos loucos
não existe engano
na ética da alteridade

são os restos do teu festim
assim espalhados
como bocas de marfim
travestidos de fantamas desejados
e o corpo macio calejado
quero a dose do teu gim

enfim, estamos sós
já é não tarde para celebrar
a pureza de nossas almas
consubstanciadas pelas estrelas
variadas dessa madrugada

que se deliciam com a vagueza
e a sutileza
de um submundo urbano
que reflete alguma beleza
que nem nós temos certeza

apenas a sobriedade da vaidade
que revela a baixeza
contos de realeza
imersos no caldeirão das incertezas
não julgue a minha fraqueza
apenas siga o rumo
com o que lhe cabe de leveza

domingo, 23 de agosto de 2009

gato maltês e o caminho dos idiotas

nessa aurora sagrada
me perdi alheio
aos vícios pequenos
e banais
do pequeno burguês
que achava que era
gato maltês

no entanto
não referendei
o rumo limitado
o conto sagrado
a cultura rasa
o caminho dos idiotas

há um círculo vazio
um martírio óbvio
reneguemos
esse som alheio
essa pérola suja
de tosca trajetória

sábado, 22 de agosto de 2009

A lua fria de Poseidon

Imerso na apatia
desmobilizada
fazendo sangria
da alma do desalmado

eis a minha estrada
conturbada, de poseidon
é meu perder
para conservar

o sacrifício da minha sede
de uma estrutura potente
que me faz renegar
o lado B do prazer estrelar

numa cena cômica e trágica
a lua fria se contorce
cinicamente
sorrindo para a via láctea

Dolce vida

doce vida
ávida por melodia
és tu que permito
invada meu lar

esse tom
abala a casa
perco a fala
ao te ver fazendo
caBAla

com um leve jeito
constante e maroto
teu brilho aumenta
sintonizo a frequência

e dentro de um instante
resgato o momento
quebro o medo
volto ao sereno

no movimento
no enquadramento
permanentemente inquieto
de olhos bem fechados

vagarosamente meiga
é essa presença
que flutua no ar
transforma minha expressão
em arte tua
onda do teu mar

O uno do átomo

me faço rogado
te trago atrasado
uma sinfonia
de gatos magros

te sinto inquieta
tragando a fumaça
do sumo da madrugada
calada como o espelho
do menino embusteiro

em tons graves
me guie inteiro
como o grupo coeso
das negras aves

te sinto infinita
como o som inexiste
no desenho da clave

recrie meu mito
me ponha no prumo
me leve para dentro
do sonhos puros
não os abstratos

derrube os prédios
me ponha no cerne
incerto
da hecatombe

me aproprio dos termos
para te fazer uma canção
o tolo sem ouro
o mouro sem salvação

um estrito sentido
lúdico
quase fáctico
esqueço por um segundo
o uno do átomo

sábado, 15 de agosto de 2009

Primatismo

Infindável rumo
que dispara
a todo instante
da vida
quero o sumo
mais robusto
que parece tão distante

aos poucos
se apequena o abismo
aparada pela
brutalidade
do conhecido primatismo

ofegante
busco o centro
vacilante
esquivo
mas apanho

estranho
não me engano
já vi mazelas
a cada ano que vai
árvore que resiste
e a fruta cai

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

sábado, 1 de agosto de 2009

Águas represadas

São águas represadas
de mágoas passadas
em pranto sofrido
de notas baixas

fases marcadas
por aspas
e choques
de impressões
lúcidas, mas mudas
mudarás...

de tempos lúdicos
e que marca tudo
não rara ausência
de displicência
do que pode
nos rodeia
e me atorde

há silêncio
em tudo que vejo
me movimento
com cadência
pra achar nova arte
na valência
de outro mote

terça-feira, 30 de junho de 2009

mapa de artifícios

minhas palavras
não são secretas
apenas nervosas
discretas
repletas de imprecisões
calorosas
queriam ser estéticas

adequado para o dom
de quem vê
sabe e lê
nas entrelinhas
varre os indícios

mas sem comíssios
ou suplícios
eu brinco com
meus próprios
artifícios
pois deles
se fazem
colírios

misericórdia
existe toda uma arte
para quem reparte
as angústias
prisões
dolorosamente
caladas
dessa cidade
as ciladas
se escondem
por toda parte

nas agruras
tencionadas por gravuras
assim eu compartilho
meu tabuleiro
com mapas
desconhecidamente
familiares
da minha mente

Mitos e símbolos

é tudo uma ciência
de referências
conjunção de símbolos
partidos, corrompidos
refém dos nossos
mais puros
e singelos
mitos

derrubaram o muro
o menino dinamite
desabou na lona
heróis se perderam
nas curvas

vagos percorriam
trilhas cruas
movidos por noites
dançando em caminhadas
de luas nuas

daqui, de longe
ainda sinto o cheiro
dos restos da chuva
úmida
isolados nas poças
fazendo troça

revelando a concretude
liberta da solitute
descoberta
que nos esmurra

são foices
que se rebelam
nervosas
duelam com fardas
provocam o choque
é a ruptura
da estrutura

é o rock
que se move
agita e comove
resgataremos
algum louco
velho jovem

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Esqueço

procuro
no teu olhar
quero ser similar
e assim eu sei
que adoro e
venero o teu jeito
e sinto receio
de tirar teu recreio
me atenho ao fato
de não representar
quem não sou
quero a vertente
mais pura
e completa
cercada de feras
por todos os lados
que regem os astros
e não julgam
respostas
me esqueço dos dados
são apenas propostas
indecorosas
quase amorosas
em reação
diversa
cabalística
secreta e direta
extrema
e avessa
parceira dos
sonhos
bizonhos
histórias engraçadas
que me fazem
sorrir

domingo, 21 de junho de 2009

Apanhador

e nessa
pretensa constância
nos fragmentos
de infância
eu vejo
nos teu olhos
a minha
linha estranha
do novato
ao insensato
o sênior duro
quase maduro

nos teus brinquedos
também estão
os meus segredos
de lembrança
cheiro de estância
em auspício de
bonança

e no discurso
pueril
espontâneo
é onde tu desperta
meu encanto

me cubro
dessa doçura
de canto
e por isso
eu volto pro
recanto
pra que
lentamente
corra
meu pranto

doce menina
que tudo venha com
o molde da esperança
no firme
olhar dessa criança
assim como
mede a balança
a gente dança
e de algum jeito
avança
pois sempre acha
que alcança

e por isso
sou apanhador
das fraquezas
e do medos
que virão
dos sonhos
que se quebrarão

por isso
eu apanho
a tua dor
a dor do inocente
crente que
pra descobrir
o amor
é preciso ser
valente

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ornamentos

você viu
meus ornamentos
jogados no chão
enquanto eu
atirado ao relento
catalogando momentos

sem me dar conta
como um cão distraído
desafiei os sentidos
nos bolsos metidos
os bilhetes
ainda não lidos

mensagens indecifráveis
que mais tarde
trariam horror
a dor se dissipa
na percepção do
que fica

domingo, 14 de junho de 2009

Marujo da Barca Liberal

o barco da saudade
todos miram
e já viajaram
acharam a calmaria
mas se enganaram

pois da calmaria
se fez monotonia
e assim
loucos e pacatos
almejaram
ao menos
um dia
a fúria
da ventania

sacudindo as velas
desbotando
nossa infantis
quimeras
refazendo
antigas aquarelas

pra que não colida
resista essa ira
mas não fique na mira
sofra os percalços
andando pela proa
de pés descalços

sou marujo
dessa fenomenologia
abissal
errante e radical
viajante dessa
barca liberal

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Absolvição

sempre que bater o medo
lembre que acordarei
no meio dessa noite fria e seca
munido de toda preocupação

sempre que bater tristeza
diga que terá destreza
no meio dessa condição
giremos a roda
sem perder o rumo
variado desta direção

porque nunca haverá o certo
e sempre haverá receio
nunca sem perder a luz
digo que terei respeito

para que juntos
achemos o belo
em novos caminhos cruzados
porém não desalmados
ainda não mapeados
livremo-nos dos fardos

assim como as palavras
perseguem a canção
e rejeitam o medo
de juntas
não encontrarem
conceito e nem simetria

que medem desejo
num breve lampejo
carregam no peito
um simples rascunho
do que com que
o verbo falado
é feito

assim calado
eu vejo a luz branca
no meio do escuro
e lembro que o tempo
também é um ensejo
mas erroneamente
bloqueia os vagos
quase por inteiro

porque nunca haverá o certo
e sempre haverá receio
nunca sem perder a luz
digo que terei respeito

sábado, 6 de junho de 2009

A fada guardiã

as chaves dos portões
me levavam pra um lugar
ao caminho do íntimo
que foi ínfimo
e eu julguei sonhar

estão com a fada
a gurdiã recatada
que queria se libertar
e hoje
veio me resgatar

me fez flutuar
e querer ter de volta
o mesmo brilho no olhar
naquele campo singular

em movimento
em fuga e sintonia
nos faz remontar
o doce colóquio
em um velho novo lugar

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Muro da Mauá

e na ontologia
vão se embora
todas as ideologias
pretensa autofagia
da linguagem
miragem do refúgio
de toda a sacanagem

construo uma melodia
pra expandir a sintonia
do que sinto dentro
do meu peito
pra tirar essa agonia

ah, filosofia
tão lógica e conceitual
não te desprezo
jamais te ignoraria
pois seria zombaria
mas não te fará mal
um pouco de ironia

apenas peço
um momento
do teu apreço
para que escutemos
juntos
o marulho
desse rio
quase mar

e que assim derrube
o muro da mauá
com um murro
nem que seja
da dor do urro
da urgência
nas ruas

assim
se faz o barulho
e desafia o instrumento
do simulacro do silêncio
e quebra
a ópera trágica
apenas com um passe
de mágica

e com o vento contra
jogando com maestria
assim me vou
singrando mares
desvendando lares
destilando poesia

terça-feira, 2 de junho de 2009

Estrangeiro sem pátria

no espelho desavisado
é onde eu miro o estado
estrangeiro em meu lar
me faz estranhar
e pensar
de onde eu viria
e como seria
qual povo me reconheceria
de jeito esperado
passos contados
como ponto marcado
acesso negado
ao forasteiro sem pátria
sem língua e sem hábito
de punhos cerrados
alcançando o próximo
destino
sem tino
sem espaço
com um terno desalinhado
cabelos desgrenhados

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Traços

a mudança rasa
transparece
a asa
que carrega
o voo
baixo

do extrato
da linguagem
tornou essência
tortuosa viagem
assim
pedi clemência

o tempo se encarrega
de tudo
como se diante
do absurdo
eu permanecesse mudo

diante do inevitável
desagarra-me a corda
e cortam-se os laços
assim como mudam
os meus traços

meu direito
é permanecer
calado
com meu
peito de aço

o que me resta
é cair em silêncio
e me perder no vácuo
dissolver o ego
em meio à massa

sábado, 30 de maio de 2009

Desfile terrestre

e segue
o desfile
um despiste
do mestre
para com
o préludio
terrestre

e marcha
vê se acha
a falha
dessa muralha
e traça
uma trapaça
sem máscara

e mede
a paisagem
encontra
na métrica
uma nova réplica
moldada
no começo
da alvorada

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Tempo do azar

em tempo
emirjo
do elaborado
para
reduzir
a um vaso
raso
quase
um asno
é o tempo
de atender
o entedimento
do momento
em que o
complexo
é trivial
mas o simples
não tem nexo
casuísmo
do banal
até que morra
pouco
a pouco
o intelecto
que afasta
que reduz
que transforma
o curso
em surto
um susto
desisto
da forma
pois há
em algum
lugar
um termo
ermo
seja no
mar
que caiba
em mim
que vibra
conduz
mal diz
o azar

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Equilibrista

um dia de folga
é muito tempo
pra quem perde uma prova
e agora acorda
pro tempo que passou

como um equilibrista
no meio da corda
em cima da pista
e agora, resista
a toda sorte de ventos

na linha de chegada
ingrata caminhada
que não mostra
a recompensa
é assim que se pensa

só que nunca acorda
e nunca há corda
suficiente
pra quem tenta
ludibriar a máquina do tempo

enquanto esmorece a corda
e se apavora
com o intangível
dessa roda

enquanto nas ruas
pouco a pouco
os filhos das mães
carentes de simbiose
sucubem à tuberculose

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O cruzador dos pampas

mapeando medos
refutando verdades
em busca de paz
na qualidade certa
e de que a raíz nasce reta

e de lendas
no tempo enveredei
novas frentes
lugares diferentes

no crivo das balas
no fogo certeiro
busco o abrigo
na fúria amada

mas sou canário
cruzador dos pampas
vago da saudade
com alguma vaidade

domingo, 17 de maio de 2009

Incertezas

abdico do definitivo
não é por causa
da armadura
talvez a ternura
da tortura

o real é parcial
leitura do individual
regida por diferentes prismas
dissoantes premissas

por quê?
por que o real pertence ao mundo
pouco meu, pouco teu
mera interpretação
nunca acessado em sua essência
ficamos apenas com a complacência
achar a verdade do coletivo
é mera inocência

estamos certo e tolos
pela dormência dos sentidos
sou descrente e cético
mas estou envolvido
ainda que reprimido

restos de certeza
imersos num caldeirão
vago da inter opinião
que não é verdade
tampouco tese de sanidade

não acredito nas sentenças
prefiro a leveza
e o combate às doenças
por quê proibir as incertezas?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sinto

se ao menos
eu soubesse
saber o que sinto
pois se há instinto
é fato que sinto
só há o verbo
o silogismo correto

mas todos dizem
que não importa a descrição
mais vale a intuição
mas se não verbalizo
como os outros saberão
o que eu sinto?

eu sei que sinto
mas não sinto que sei
quem é o rei?
o que controla a riqueza
ou o que é elemento da natureza?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Esconderijo

apagado
na madrugada vazia
em triste melancolia

paremos com a sutileza brutal
com o vício abismal
e a tortura desassistida

pois a casca é dura
mas o véu é curto
e eu me escondo no lugar comum
mas óbvio
e tu?
onde te esconde?

A palavra

me dói a palavra
o som áspero
o tom grave
o descompasso

em cada pausa
o momento que antecede
angústia do segundo
que ainda não foi

a palavra me cabe
e na soma das palavras
pedaço da verdade
expressão de uma divindade

nas divagações
a busca da forma perfeita
em oposição ao conteúdo
no calobouço do discurso
aflição é feita

um golpe evasivo
vindo de lugar algum
derruba no ringue
lá vem vertigem
é aberta a contagem...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Lemas e lama

que doce sina
que belo monte
invande o espaço
recaí o traço

repleto de lemas
assim sao meus poemas
mas aonde está a lama?
sim, essa que não é a certa
mas me chama

e num momento fugaz
sei que sou capaz
mas tudo vem a tona
a lama
o drama
e os lemas
minhas algemas

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Batalhas imaginárias

pequeno anjo iluminado
a manhã cinzenta se aproxima
teus olhos tímidos
reluzindo no salão

estas armas são pra quê?
constrói batalhas imaginárias
no mundo pacato
aparato do sarcasmo

mas este mundo não tem pecado
e isso não é um recado
pior seria o marasmo
no espectro vasto

e o mundo outrora repleto
de sonhos e fantasias
ainda não é o crepúsculo
é apenas um dia recluso

nas trevas dos olhares
me revelo o pior dos ignorates
quase um tratante
mas nunca retirante

terça-feira, 5 de maio de 2009

Tanto faz, tanto fez

para dizer que tanto faz
percorri caminhos
recusei desígnios
barganhei comigo
armei um circo

li nas entrelinhas
entre ilhas
vagando em vigílias
histórias sombrias
de minha vida

é, tanto faz...

e hoje aprimorei sentidos
para dizer que tanto fez
ter se escondido
e bebido
sofregadamente
em taças de cristais
embebidas
em vinho tinto
de nostalgia

é, eu digo
tanto fez...


toda potência
que ser ato
roteiro de teatro
assim como o movimento
deseja ser retrato

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Vícios e virtudes

entre vícios e as virtudes
de outra hora singular
inconstante e irrelevante
estão os lugares proibidos
em disfarces coloridos

e as sombras estanques
de um mundo ideal
estrutura visceral
fantasioso e singelo
eu falo do meu elo

meu lastro social
refletidos nessa pedra filosal
e nessa pequena agenda
guardo fragmentos de livros
documentos vencidos
despreocuda notação
do campo da razão

escondidos na memória
esses trechos desconexos
conduzem aos meus desejos
mais secretos
não impuros e distintos
tenros e impróprios
que me deixam em apuros

sou canário
sou distante
da virtude, missionário
bravo e aguerrido
não desisto por um instante
pra dizer que ainda há muito
muito pra sonhar
em um novo lar

Nos trilhos conhecidos

é preciso sentir para saber
é preciso trilhar para chegar
mas como desarticular e quebrar
o que não está estendido?

nos trilhos conhecidos
o lugar sabido
em solo proibido

mas embaixo do trilho
um dormente reticente
quase doente
vício permanente
atormenta a mente

com tenacidade voraz
e persistência sagaz
e um brilho no olhar
clareza solar
negar a morte
isso é amar

domingo, 26 de abril de 2009

Em meu peito

o sentimento que não é puro
esconde no peito
todo momento que é efêmero
e toda alegria passageira
se dispersa do meu leito

sábado, 25 de abril de 2009

Corsários

derrubaram meu castelo
forças do além
onde estão meus tesouros?
onde foi que eu errei?
meu nobre amigo plebeu
roubaram o que era meu

logo eu
que me achava
o soberano
doutor das ciências
e mestre na arte da guerra

mas vieram os corsários
num arroubo espetaculoso
ergueram suas espadas de marfim
proferiram o meu fim
fogo no convés
meu mais novo revés
apagaram minha chama
oh, que drama

me chama de volta
para bem longe daqui
resgastar e escutar
aprumar e esquecer
me lembrar que já tive
um dia de sol
em meio às trevas medievais

tratados escrevi
batalhas perdi
mas hoje
selarei a paz de espírito
com todos os povos
entre o mundo e o submundo
brindarei novos ventos
sonhos prósperos ovacionarei

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Preciso falar

Preciso me achar
Mas não quero falar
Não quero esconder
Mas prefiro guardar

pequena manhã de outono
estoura em meu peito
O que eu não sei
Nada pressinto
Eu insisto

me prende
entende e
acende
porque o ontem nunca será

nada evapora no ar

ontem... eu resolvi mudar
viver o hoje
ganhar a cidade
tocar a viola
e bebericar

se o denso é meu medo
eu me fecho em mim mesmo
dou meia volta
e só sei que é intenso

sou refém do desejo
e do cheiro
da cor amarela
da vista secreta
do remexo do teu cabelo

que consome
corrompe
e abala
todo o vestígio moral

de onde vem toda leveza letal?

mas eu preciso falar
preciso vergar
o peso do ar
que resiste, insiste , que é triste
e me faz calar
mas eu preciso falar.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Vagas emoções

levianamente sóbrio
descompensadamente pálido
construo pontes
entre ilhas
vagas emoções mexidas

e no meio do horizonte
onde tudo é muito longe
caio dentro do abstrato
mas busco minha fonte

conscientemente hébrio
indiferentemente forte
aldeias submersas
na razão escura e obscura
pântamos de sentimentos

profunda desilusão
de certezas
comprovadamente sólidas
de onde brota
da minha fossa
essa maldita coleção
de pensamentos imperfeitos

Desentendido distante desencontro

nossas verdades
correm em linhas paralelas
nossos credos
em sentidos opostos
mas por que não deixar
que o sentimento floresça
que a alma aqueça
sem que se perceba
assim como o infinito
me escuta
e nunca desapareça

você me diz que me ama
e reclama
na cama
estamos a dois
passos somente
do poente
eu me esquivo em prosa
não te trago a rosa
pra dizer que existe
muito mais
do que uma única resposta

você me estranha
e só me pede
que não espere
eu te digo que é cedo
pra que tanta pressa?
pra que tanto desespero?
o tempo é como pêndulo
que não me engana
e envenena

do discurso singelo
e na fala macia
eu carrego
meu poema
que fala de paz e harmonia
sem ironia
de sossego e bem querer
eu me refujo
no meu reduto obscuro
que se esvai em melancolia

se não existem meias verdades
meias mentiras
é que não serão
e do meio da metade
eu persigo o caminho

e onde está a verdade?
tão pura
e tão inexata
que produz e recheia
minha alma