domingo, 17 de janeiro de 2010

Acorde de final de tarde II - a prática do desapego

cansei das próprias promessas
agora as querelas prescrevem
pois esqueceram de ter pressa
da música que é omissa
escondida no reino imaturo tardio

já cansei de comício
e da própria rebeldia sem serventia
o que me urge é o reparo do desamparo
nos brinquedos esquecidos
no aconchego apertado do leito distante

reparo é constância
é pratica do desapego
do que já foi inteiro
desoterrar o incruado sorrateiro

nuvens que se movem
como acordes de fim de tarde
anunciando o temporal
que o cheiro da terra úmida invada nossa arte
que a chuva molhe essa lágrimas

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Jornada

e nessa longa jornada tocam os sinos distintos da serenidade
daquela cidade que mais parecem gritos, alguém pede ajuda.

Na calada da madrugada, enquanto corujas e morcegos namoram estrelas,
a única arma do guerreiro é uma lança forjada do aço mais duro e frio, de liga maciça, compondo a couraça.

um dia, avistei uma cidade grega. Não era maior delas, mas tinha enigmas e sutilezas, uma pureza que talvez, poucas cidades poderiam dispor desse brilho mágico. Guardava no seu povoado, singelos sorrisos adocicados contrastados pelos que também sofrem com o sonho de libertação e paz.

Como um persa, desejei tomar de assalto, sem alardes, silenciosamente, sem disparar tiro algum, sem luzes, sem guarnica no meu coração. Mas nesse vasto mundo quem são meus companheiros?

Entretanto os guardiões despertaram e meu plano havia fracassado, pois aquela cidade queria paz e o sossego.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Castelos de pedras

um corpo que vaga só
por entre castelos de pedras, desejos e quimeras
às vezes quase invisível, pois estranha o intangível

nem o silêncio esvazia o olhar sensível
que descobre que as portas estão todas as abertas
apenas juntando forças que se revelam por entre frestas

sublimando nuvens douradas, barcas quase paradas
arredias à ancoragem
a nau segue viagem
desafiando os artifícios que barbarizam novos fatos

mas nossos quadros refutam a mesmice
e buscam outros relatos
zombam do marasmo

agora, o olhar destrói a razão
marujo que não teme azarão
pois há prontos sentidos na reserva da ação

portos que recebem várias direções
sacodem emoções, desaprisionam sensações
os fossos se abrem
liberando a putridão

o sol forte seca as feridas
que já abalaram as vigas
agora, sorrimos para o mar

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Acordes do final da tarde

refém do humanismo
rei escondido pretenso
aqui não há compromisso
o tardio é denso, quase inconstante, quase vazio

dessas urgências sem importâncias
num copo de birita
a concretização do desapego
cessa o ritmo frenético
disfrutando do sossego

ao acordar em desatino
num sonho expandível
quase improvável
coração perdido
encanto impreciso
reflete um vasto recanto
emula nosso canto

errando algumas melodias
no andar que nunca se move
respirando poesia
quase parados
quase distraídos

mas refinam-se os acordes
desse fim de tarde
saciando a minha sede da pele que arde
com boa música e o amargo do mate