terça-feira, 30 de junho de 2009

mapa de artifícios

minhas palavras
não são secretas
apenas nervosas
discretas
repletas de imprecisões
calorosas
queriam ser estéticas

adequado para o dom
de quem vê
sabe e lê
nas entrelinhas
varre os indícios

mas sem comíssios
ou suplícios
eu brinco com
meus próprios
artifícios
pois deles
se fazem
colírios

misericórdia
existe toda uma arte
para quem reparte
as angústias
prisões
dolorosamente
caladas
dessa cidade
as ciladas
se escondem
por toda parte

nas agruras
tencionadas por gravuras
assim eu compartilho
meu tabuleiro
com mapas
desconhecidamente
familiares
da minha mente

Mitos e símbolos

é tudo uma ciência
de referências
conjunção de símbolos
partidos, corrompidos
refém dos nossos
mais puros
e singelos
mitos

derrubaram o muro
o menino dinamite
desabou na lona
heróis se perderam
nas curvas

vagos percorriam
trilhas cruas
movidos por noites
dançando em caminhadas
de luas nuas

daqui, de longe
ainda sinto o cheiro
dos restos da chuva
úmida
isolados nas poças
fazendo troça

revelando a concretude
liberta da solitute
descoberta
que nos esmurra

são foices
que se rebelam
nervosas
duelam com fardas
provocam o choque
é a ruptura
da estrutura

é o rock
que se move
agita e comove
resgataremos
algum louco
velho jovem

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Esqueço

procuro
no teu olhar
quero ser similar
e assim eu sei
que adoro e
venero o teu jeito
e sinto receio
de tirar teu recreio
me atenho ao fato
de não representar
quem não sou
quero a vertente
mais pura
e completa
cercada de feras
por todos os lados
que regem os astros
e não julgam
respostas
me esqueço dos dados
são apenas propostas
indecorosas
quase amorosas
em reação
diversa
cabalística
secreta e direta
extrema
e avessa
parceira dos
sonhos
bizonhos
histórias engraçadas
que me fazem
sorrir

domingo, 21 de junho de 2009

Apanhador

e nessa
pretensa constância
nos fragmentos
de infância
eu vejo
nos teu olhos
a minha
linha estranha
do novato
ao insensato
o sênior duro
quase maduro

nos teus brinquedos
também estão
os meus segredos
de lembrança
cheiro de estância
em auspício de
bonança

e no discurso
pueril
espontâneo
é onde tu desperta
meu encanto

me cubro
dessa doçura
de canto
e por isso
eu volto pro
recanto
pra que
lentamente
corra
meu pranto

doce menina
que tudo venha com
o molde da esperança
no firme
olhar dessa criança
assim como
mede a balança
a gente dança
e de algum jeito
avança
pois sempre acha
que alcança

e por isso
sou apanhador
das fraquezas
e do medos
que virão
dos sonhos
que se quebrarão

por isso
eu apanho
a tua dor
a dor do inocente
crente que
pra descobrir
o amor
é preciso ser
valente

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ornamentos

você viu
meus ornamentos
jogados no chão
enquanto eu
atirado ao relento
catalogando momentos

sem me dar conta
como um cão distraído
desafiei os sentidos
nos bolsos metidos
os bilhetes
ainda não lidos

mensagens indecifráveis
que mais tarde
trariam horror
a dor se dissipa
na percepção do
que fica

domingo, 14 de junho de 2009

Marujo da Barca Liberal

o barco da saudade
todos miram
e já viajaram
acharam a calmaria
mas se enganaram

pois da calmaria
se fez monotonia
e assim
loucos e pacatos
almejaram
ao menos
um dia
a fúria
da ventania

sacudindo as velas
desbotando
nossa infantis
quimeras
refazendo
antigas aquarelas

pra que não colida
resista essa ira
mas não fique na mira
sofra os percalços
andando pela proa
de pés descalços

sou marujo
dessa fenomenologia
abissal
errante e radical
viajante dessa
barca liberal

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Absolvição

sempre que bater o medo
lembre que acordarei
no meio dessa noite fria e seca
munido de toda preocupação

sempre que bater tristeza
diga que terá destreza
no meio dessa condição
giremos a roda
sem perder o rumo
variado desta direção

porque nunca haverá o certo
e sempre haverá receio
nunca sem perder a luz
digo que terei respeito

para que juntos
achemos o belo
em novos caminhos cruzados
porém não desalmados
ainda não mapeados
livremo-nos dos fardos

assim como as palavras
perseguem a canção
e rejeitam o medo
de juntas
não encontrarem
conceito e nem simetria

que medem desejo
num breve lampejo
carregam no peito
um simples rascunho
do que com que
o verbo falado
é feito

assim calado
eu vejo a luz branca
no meio do escuro
e lembro que o tempo
também é um ensejo
mas erroneamente
bloqueia os vagos
quase por inteiro

porque nunca haverá o certo
e sempre haverá receio
nunca sem perder a luz
digo que terei respeito

sábado, 6 de junho de 2009

A fada guardiã

as chaves dos portões
me levavam pra um lugar
ao caminho do íntimo
que foi ínfimo
e eu julguei sonhar

estão com a fada
a gurdiã recatada
que queria se libertar
e hoje
veio me resgatar

me fez flutuar
e querer ter de volta
o mesmo brilho no olhar
naquele campo singular

em movimento
em fuga e sintonia
nos faz remontar
o doce colóquio
em um velho novo lugar

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Muro da Mauá

e na ontologia
vão se embora
todas as ideologias
pretensa autofagia
da linguagem
miragem do refúgio
de toda a sacanagem

construo uma melodia
pra expandir a sintonia
do que sinto dentro
do meu peito
pra tirar essa agonia

ah, filosofia
tão lógica e conceitual
não te desprezo
jamais te ignoraria
pois seria zombaria
mas não te fará mal
um pouco de ironia

apenas peço
um momento
do teu apreço
para que escutemos
juntos
o marulho
desse rio
quase mar

e que assim derrube
o muro da mauá
com um murro
nem que seja
da dor do urro
da urgência
nas ruas

assim
se faz o barulho
e desafia o instrumento
do simulacro do silêncio
e quebra
a ópera trágica
apenas com um passe
de mágica

e com o vento contra
jogando com maestria
assim me vou
singrando mares
desvendando lares
destilando poesia

terça-feira, 2 de junho de 2009

Estrangeiro sem pátria

no espelho desavisado
é onde eu miro o estado
estrangeiro em meu lar
me faz estranhar
e pensar
de onde eu viria
e como seria
qual povo me reconheceria
de jeito esperado
passos contados
como ponto marcado
acesso negado
ao forasteiro sem pátria
sem língua e sem hábito
de punhos cerrados
alcançando o próximo
destino
sem tino
sem espaço
com um terno desalinhado
cabelos desgrenhados

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Traços

a mudança rasa
transparece
a asa
que carrega
o voo
baixo

do extrato
da linguagem
tornou essência
tortuosa viagem
assim
pedi clemência

o tempo se encarrega
de tudo
como se diante
do absurdo
eu permanecesse mudo

diante do inevitável
desagarra-me a corda
e cortam-se os laços
assim como mudam
os meus traços

meu direito
é permanecer
calado
com meu
peito de aço

o que me resta
é cair em silêncio
e me perder no vácuo
dissolver o ego
em meio à massa