domingo, 5 de dezembro de 2010

Temores

recrudecem meus temores
a cada pensar, um novo olhar
no começo de cada manhã
as névoas de pratas disfarçam
as frutas maduras nas pequenas ranhuras

conto meus passos
reparo nos pedaços de cada percalço
já não dói por demais
tropeçar nos próprios cadarços

pernas astutas balançam
driblam infortúnios e sombras de cadáveres
para que recomecem novos parágrafos
refaço-os
e reponho novamente
a arte que insiste
em habitar minha mente
que desconstrói o mal dizente

por entre infantos
irmãos inconstantes buscando o intocável
enquanto admiram artefatos
mas as toras sinistras
já se foram pelos penhascos

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Palavras da cidade

sem palavras não sou nada
apenas silêncio na escuridão
gestos e olhares dissolvidos na cidade
retratos dessa multidão
o que são quereres?
e como proceder deveres?
assim deveras
esparra teu contido ácido
o verbo escasso
no prêambulo flácido
por onde vagarás comigo
na luz estreita
o bom ótimo dessa condição
até que se perca por entre estrelas
que partem pra nenhuma direção
talvez seja a busca da forma concisa
um tratado, mais que um achado
por enquanto
fica mantido que impera o não entendido
até que encontre a linha acabada

sábado, 27 de março de 2010

homem de fraque

numa ópera de máscaras
frações e sílabas
jogo de palavras
ou seriam números mágicos?

inequações de exatidões
conjuntos de pretextos
e faca na carne
mais uma encenação
do capítulo trágico

mesa repleta de cervejas
no contexto de uma trama
fumaça na cara
correnteza pervesa
obstruindo a destreza

sem formar um roteiro
um truque, um reparo
um muro áspero
sem fanfarronices
apenas mais um disfarce

o possesso do ataque
se vale do seu traje
mais uma defesa
do homem de fraque
não contrariando sistemas
para não expor incertezas

sábado, 20 de março de 2010

Entendimento

nem o colírio dos olhos, nem a chama que consome lentamente
mas algo que ainda me põe em dissisimetria com a folia
pois corpo ainda dormente
a simpatia em querer ser o rei de uma fantasia
em puro entendiante êxtase, contento desse estanque de impressões
na sombra da rebeldia, concentra-se o amago da essência
de quem assume que há mais segredos não revelados
há mais que um remendo por onde correm meus olhos
mas jamais tentaram se esconder
talvez estivessem olhando pro lugar errado
queriam ultrapassar o entendimento
brigando com mensagens cifradas

domingo, 17 de janeiro de 2010

Acorde de final de tarde II - a prática do desapego

cansei das próprias promessas
agora as querelas prescrevem
pois esqueceram de ter pressa
da música que é omissa
escondida no reino imaturo tardio

já cansei de comício
e da própria rebeldia sem serventia
o que me urge é o reparo do desamparo
nos brinquedos esquecidos
no aconchego apertado do leito distante

reparo é constância
é pratica do desapego
do que já foi inteiro
desoterrar o incruado sorrateiro

nuvens que se movem
como acordes de fim de tarde
anunciando o temporal
que o cheiro da terra úmida invada nossa arte
que a chuva molhe essa lágrimas

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Jornada

e nessa longa jornada tocam os sinos distintos da serenidade
daquela cidade que mais parecem gritos, alguém pede ajuda.

Na calada da madrugada, enquanto corujas e morcegos namoram estrelas,
a única arma do guerreiro é uma lança forjada do aço mais duro e frio, de liga maciça, compondo a couraça.

um dia, avistei uma cidade grega. Não era maior delas, mas tinha enigmas e sutilezas, uma pureza que talvez, poucas cidades poderiam dispor desse brilho mágico. Guardava no seu povoado, singelos sorrisos adocicados contrastados pelos que também sofrem com o sonho de libertação e paz.

Como um persa, desejei tomar de assalto, sem alardes, silenciosamente, sem disparar tiro algum, sem luzes, sem guarnica no meu coração. Mas nesse vasto mundo quem são meus companheiros?

Entretanto os guardiões despertaram e meu plano havia fracassado, pois aquela cidade queria paz e o sossego.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Castelos de pedras

um corpo que vaga só
por entre castelos de pedras, desejos e quimeras
às vezes quase invisível, pois estranha o intangível

nem o silêncio esvazia o olhar sensível
que descobre que as portas estão todas as abertas
apenas juntando forças que se revelam por entre frestas

sublimando nuvens douradas, barcas quase paradas
arredias à ancoragem
a nau segue viagem
desafiando os artifícios que barbarizam novos fatos

mas nossos quadros refutam a mesmice
e buscam outros relatos
zombam do marasmo

agora, o olhar destrói a razão
marujo que não teme azarão
pois há prontos sentidos na reserva da ação

portos que recebem várias direções
sacodem emoções, desaprisionam sensações
os fossos se abrem
liberando a putridão

o sol forte seca as feridas
que já abalaram as vigas
agora, sorrimos para o mar

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Acordes do final da tarde

refém do humanismo
rei escondido pretenso
aqui não há compromisso
o tardio é denso, quase inconstante, quase vazio

dessas urgências sem importâncias
num copo de birita
a concretização do desapego
cessa o ritmo frenético
disfrutando do sossego

ao acordar em desatino
num sonho expandível
quase improvável
coração perdido
encanto impreciso
reflete um vasto recanto
emula nosso canto

errando algumas melodias
no andar que nunca se move
respirando poesia
quase parados
quase distraídos

mas refinam-se os acordes
desse fim de tarde
saciando a minha sede da pele que arde
com boa música e o amargo do mate