segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Aquário de Vaidades

ei, sujeito da gravata
se for possível, recorra à ata
mas agora dê um tapa
e deixe de bravata

nesse instante
idiotas perante
um mundo que viaja lá fora
em outra tonalidade
na estrutura errante

logo adiante
irá revelar
o quanto insaso é
esse aquário de vaidades
enquanto os olhares mordazes
se cruzam como enfermidades

Agora, desconectemos da insanidade
descartemos as novidades
um rio pra sublimar
esse cortiço de frivolidades
enquanto lá fora
traseuntes esperam sinais
e mendigos nas calçadas
produzindo imagens sarcáticas

Está tudo do avesso
Não há mais recomeço
traduzindo fantasmas no espelho
são nossas ilhas recrudecendo ao veneno
formatando o procedimento do desespero

Ei, homem da gravata
há chance que refaça
enquato rumamos na fragata
amarra as dores sutis
confia e retrata
com tinta vinil
se desfaça
e voemos junto
no voo dessa garça

sábado, 21 de novembro de 2009

Barcas descarregadas

uma chama apertada
uma chaga rasgada
com promessas veladas
no bojo do turbilhão

um poema engavetado
uma lousa roubada
e leões alados desenhados
no estrato do coração

todo meu movimento
sem meu cossentimento
o orgulho é apenas um ornamento
no meio da multidão

as barcas descarregadas
imagens são levadas
de um único momento
que se fez impressão

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Flores de jacarandá

dessas estruturas cabais, que até já duvido se são letais, sim, ainda sou animal, ainda que racional.
e desvio a rota da nau canária, pois os marujos imundos já estão castigados pela praga
que também molesta os poetas embriagados nas elucabrações de seus processos mais amargos
assim distraído, perdido em meus próprios parágrafos, longos e densos, lembrando os de Saramago,
marcados a ferro e fogo a blindagem na matriz do vago
e assim, são nas flores de jacarandá que se espalham nas ruas, onde conquisto o meu espaço e vou aos céus com tapetes roxos, expelindo fuligem que ainda persiste, desafiando o rastro, a poeira pra trás, vencendo o tempo como um príncipe
que ergue a espada pra cortar o aço, misturando emoções longíquas descabidas no peito
com a essência da cidade; apenas por um segundo, como a mágica de um breve traço,
o tom melancólico que atravessa a garganta concede ao brilho uma vocação de astro
e surgem cabelos de prata, dedo-duro da idade,
me põe como ser cambaleante, fazendo malabarismos com os livros
que caem da estante, e jogo fora as canetas que só desenham prisões,
em uma metamorfose maluca que eleva a rotação, traz de volta o menino fujão
pra dentro de uma nova direção, com os rasgos do coração maduro
que mais parecem a ilha de um náufrago em desuso, buscando o afago de mãos secretas e macias
que confortam e apaziguam como dose de morfina nessa sina assina, cheiro de saudade em campos de batalha artificiais, nos corpos duros dos soldados.