quarta-feira, 29 de abril de 2009

Vícios e virtudes

entre vícios e as virtudes
de outra hora singular
inconstante e irrelevante
estão os lugares proibidos
em disfarces coloridos

e as sombras estanques
de um mundo ideal
estrutura visceral
fantasioso e singelo
eu falo do meu elo

meu lastro social
refletidos nessa pedra filosal
e nessa pequena agenda
guardo fragmentos de livros
documentos vencidos
despreocuda notação
do campo da razão

escondidos na memória
esses trechos desconexos
conduzem aos meus desejos
mais secretos
não impuros e distintos
tenros e impróprios
que me deixam em apuros

sou canário
sou distante
da virtude, missionário
bravo e aguerrido
não desisto por um instante
pra dizer que ainda há muito
muito pra sonhar
em um novo lar

Nos trilhos conhecidos

é preciso sentir para saber
é preciso trilhar para chegar
mas como desarticular e quebrar
o que não está estendido?

nos trilhos conhecidos
o lugar sabido
em solo proibido

mas embaixo do trilho
um dormente reticente
quase doente
vício permanente
atormenta a mente

com tenacidade voraz
e persistência sagaz
e um brilho no olhar
clareza solar
negar a morte
isso é amar

domingo, 26 de abril de 2009

Em meu peito

o sentimento que não é puro
esconde no peito
todo momento que é efêmero
e toda alegria passageira
se dispersa do meu leito

sábado, 25 de abril de 2009

Corsários

derrubaram meu castelo
forças do além
onde estão meus tesouros?
onde foi que eu errei?
meu nobre amigo plebeu
roubaram o que era meu

logo eu
que me achava
o soberano
doutor das ciências
e mestre na arte da guerra

mas vieram os corsários
num arroubo espetaculoso
ergueram suas espadas de marfim
proferiram o meu fim
fogo no convés
meu mais novo revés
apagaram minha chama
oh, que drama

me chama de volta
para bem longe daqui
resgastar e escutar
aprumar e esquecer
me lembrar que já tive
um dia de sol
em meio às trevas medievais

tratados escrevi
batalhas perdi
mas hoje
selarei a paz de espírito
com todos os povos
entre o mundo e o submundo
brindarei novos ventos
sonhos prósperos ovacionarei

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Preciso falar

Preciso me achar
Mas não quero falar
Não quero esconder
Mas prefiro guardar

pequena manhã de outono
estoura em meu peito
O que eu não sei
Nada pressinto
Eu insisto

me prende
entende e
acende
porque o ontem nunca será

nada evapora no ar

ontem... eu resolvi mudar
viver o hoje
ganhar a cidade
tocar a viola
e bebericar

se o denso é meu medo
eu me fecho em mim mesmo
dou meia volta
e só sei que é intenso

sou refém do desejo
e do cheiro
da cor amarela
da vista secreta
do remexo do teu cabelo

que consome
corrompe
e abala
todo o vestígio moral

de onde vem toda leveza letal?

mas eu preciso falar
preciso vergar
o peso do ar
que resiste, insiste , que é triste
e me faz calar
mas eu preciso falar.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Vagas emoções

levianamente sóbrio
descompensadamente pálido
construo pontes
entre ilhas
vagas emoções mexidas

e no meio do horizonte
onde tudo é muito longe
caio dentro do abstrato
mas busco minha fonte

conscientemente hébrio
indiferentemente forte
aldeias submersas
na razão escura e obscura
pântamos de sentimentos

profunda desilusão
de certezas
comprovadamente sólidas
de onde brota
da minha fossa
essa maldita coleção
de pensamentos imperfeitos

Desentendido distante desencontro

nossas verdades
correm em linhas paralelas
nossos credos
em sentidos opostos
mas por que não deixar
que o sentimento floresça
que a alma aqueça
sem que se perceba
assim como o infinito
me escuta
e nunca desapareça

você me diz que me ama
e reclama
na cama
estamos a dois
passos somente
do poente
eu me esquivo em prosa
não te trago a rosa
pra dizer que existe
muito mais
do que uma única resposta

você me estranha
e só me pede
que não espere
eu te digo que é cedo
pra que tanta pressa?
pra que tanto desespero?
o tempo é como pêndulo
que não me engana
e envenena

do discurso singelo
e na fala macia
eu carrego
meu poema
que fala de paz e harmonia
sem ironia
de sossego e bem querer
eu me refujo
no meu reduto obscuro
que se esvai em melancolia

se não existem meias verdades
meias mentiras
é que não serão
e do meio da metade
eu persigo o caminho

e onde está a verdade?
tão pura
e tão inexata
que produz e recheia
minha alma